Metodologia de projetos num paradigma da complexidade
Marilda Aparecida Behrens
Nos séculos XIX e XX, o termo projeto aparece para designar: ideia,
perspectiva e intenção. Ao buscar os sinônimos do termo, encontra-se: desígnio,
intenção, alvo, planejamento, finalidade e programa. Para Ferreira (2000,
p.1400), projeto quer dizer: “Ideia
que se forma de executar ou realizar algo, no futuro, plano, intento,
desígnio”. No sentido de projetar,
aparece como “Atirar longe, arremessar, efetuar a projeção de, fazer incidir,
estender, prolongar, lançar”. A palavra projeto,
aliada ao termo previsão, tem o
sentido de empreendimento a ser realizado, provocando uma visão de antecipação
de futuro.
O termo projeto tem diferentes entendimentos e configurações. Numa proposta
relativamente recente no processo pedagógico, aparece com o sentido de
proposição de uma prática pedagógica crítica, reflexiva e problematizadora.
Cabe ressaltar que a significação de projetos
nas variadas línguas converge para o termo proposição.
Por exemplo, em italiano progetto e
em francês projet prevalece o sentido
de propósito, intenção, plano. No inglês project
e em alemão projekt significa
programa. Assim, este estudo do termo projeto
se estende, quando Boutinet (2002, p.34) esclarece: “Parece que o termo
‘projeto’ surge, de maneira regular, no decorrer do século XV, sob as formas de
poujet e project. Tem conotações de ordenação espacial e um vínculo com a
etimologia latina do verbo projicio (lançar para frente, expulsar)”.
A denominação de projeto também tem sentido de provocar possibilidades ou escolhas
em uma determinada situação-problema. Acredita-se que o sentido de “arrojar-se
e efetuar projeção” possa dimensionar a necessidade de comprometimento e
envolvimento necessários para buscar a aprendizagem por projetos a partir de
resolução de problemas. Assim, segundo Boutinet (2002, p.84) “Antes de ser
definido, o projeto se apoia em um conjunto de previsões que ajudam a delimitar
melhor a situação na qual ele será implantado, mas ele busca, apesar de tudo,
predizer um futuro almejado e faz então às vezes de previsão, indicando o que
será esse futuro, uma vez concretizado”.
A palavra projeto leva a considerar a situação ambígua que este termo pode
ocasionar quando o docente optar por Metodologia de Projetos. Neste sentido,
alerta-se o professor que ao optar por essa metodologia considere que o termo projeto pode significar tanto o objeto
que se quer produzir quanto o método que o caracteriza. Além desta ambiguidade
carrega ainda a função tanto de propor o que se quer realizar como o que será
feito para essa finalidade. Daí a crítica que alguns autores fazem para essa
terminologia, que pode induzir a uma proposta fechada que não leve em conta a
realidade e as necessidades dos alunos para aprender. Nesse sentido, a
Metodologia de Projetos poderia engessar a proposta do professor e cercear a
sua criatividade e a dos alunos. Esse cuidado vale à pena considerar. No
entanto, Behrens & José (2003) defendem a flexibilidade e a possibilidade
de contemplar múltiplas visões numa Metodologia de Projetos. A carga de
ambiguidade pode abrir outras perspectivas como conviver com as dualidades a
serem superadas: sujeito/objeto, exterior/interior, forma/conteúdo,
individual/coletivo, entre outras.
Face ao desafio apresentado, a
ambiguidade não pode impedir o professor de trabalhar com projetos e de estar
atento para não acolher um caráter determinista entre as finalidades que
configuram a metodologia. Segundo Cosme & Trindade (2001, p.14), a
proposição de esquemas rígidos não pode ser adotada: “mas não invalida a
possibilidade de elaboração de alguns roteiros capazes de apoiar o que
poderíamos designar por um exercício de prospecção que nos elucide, tanto
quanto possível, acerca das implicações metodológicas de algumas das opções a
assumir neste campo”.
A discussão sobre o termo projeto avança quando o professor tem
clareza que essa metodologia a ser proposta tem a perspectiva de atividade
educativa a ser promovida e desenvolvida para produzir conhecimento com
autonomia e espírito crítico.
O projeto tem a finalidade de
circunscrever a visão do todo envolvendo o processo de investigação decorrente
da problematização. Esta metodologia precisa enfatizar a necessidade da
proposição de atitude transdisciplinar. Afinal, o projeto tem a função de
canalizar energias para investigar possíveis respostas para um determinado
problema e esse problema não está isolado em uma única visão e nem em uma única
disciplina.
A
proposição de atuar na docência por meio de projetos não se trata de inovação
na prática pedagógica. Na realidade, Dewey (1859-1952) apresenta a metodologia
de ensino focalizada por meio do desenvolvimento de projetos nos anos de 1915 e
1920, junto com Kilpatrick (1918). Nessa época, segundo Boutinet (2002, p.18),
“Dewey e Kilpatrick tentaram opor à pedagogia tradicional, que se revelava
muito onerosa em relação aos ganhos obtidos, uma pedagogia progressista, também
chamada de pedagogia aberta, na qual o aluno se tornava ator de sua formação
através de aprendizagens concretas e significativas para ele”. A proposta de
Dewey continua sendo atual e relevante até nossos dias.
O educador Dewey entendia a escola
como centro de educação e deveria “preparar os alunos para a resolução de
problemas com que se deparavam no seu ambiente físico e social. A escola devia
surgir como um prolongamento da vida e, ao mesmo tempo, esta devia ser
destinatária das aprendizagens escolares adquiridas” (In: ALARCÃO, 1996, p.43). Cabe ressaltar
que a proposta de Dewey foi elaborada por volta de 1920 e continua
completamente oportuna e pertinente. Nessa época, já tratava da necessidade de
superar o currículo disciplinar e fragmentado, e afirma que os programas
deveriam ser abertos, funcionando como meio “capaz de coordenar projectos de
actividades problemáticas quotidianas” (In:
ALARCÃO, 1996, p.43).
A metodologia de ensino por projeto,
proposta por Dewey, foi incorporada, no Brasil, pela abordagem da Escola Nova,
por volta dos anos trinta. A metodologia criada por Dewey (1968) adquire
pertinência, quando propõe: “O verdadeiro método pedagógico consiste primeiro
em tornarmo-nos inteligentemente atentos às aptidões, às necessidades, às
experiências vivenciadas pelos educandos e, em segundo lugar, em desenvolver
estas sugestões de base de tal forma que elas se transformem num plano ou num
projeto que, por sua vez, se organize num todo assumido pelo grupo” (In: MALPIQUE, LEITE & SANTOS, 1993,
p.17). Entende-se que o plano ou proposta, elaborado pelo professor, precisa
ser construído levando em consideração um empreendimento cooperativo, no qual a
sugestão do professor não se apresenta como um modelo engessado, mas uma
possibilidade de acolher as contribuições daqueles que estejam envolvidos no
processo educativo. Assim, a proposição de Dewey continua sendo pertinente e
vem sendo utilizada ao longo dos anos. No entanto, nas últimas décadas, a
proposta foi se desenvolvendo e se reinventando, se reconstruindo e, hoje,
aparece reescrita por outros autores, que buscam uma abordagem metodológica com
situações problematizadoras para o ensino e para a aprendizagem.
Na realidade, não se trata só de
aplicar a proposta de Dewey, mas de acrescentar, superar e reinventar essa
metodologia apresentando um enfoque complexo, global, crítico e reflexivo. Como
propõe Cosme & Trindade (2001, p.54), a Metodologia de Projetos pode ser
entendida como um “método de trabalho que se define e configura em função da
resolução de problemas, caracteriza-se como uma ação decidida, planificada e
implementada por um grupo de trabalho organizado para o efeito”, e complementa:
“Embora a Metodologia de Projetos se construa a partir de um conjunto de etapas
articuladas entre si, cremos que a sua identidade metodológica deverá ser
compreendida, também, em função do modo e das razões que justificam a emergência
desse problema como motivo do investimento dos alunos e, neste sentido, como
uma oportunidade educativa singular”.
A Metodologia dos Projetos que atenda
a uma visão de educação complexa, global, holística e emergente, exige
processos democráticos de escolha e de envolvimento. Dewey (1995) aponta que a
riqueza do processo democrático não se apoia apenas em uma forma de governo,
mas, principalmente, a um modo associado de vida, de conviver em situações de
entreajuda e de experiência de comunicação coletiva, respeitosa e fraterna. Com
referência ao processo democrático, Yus (2002, p.168) acrescenta que o
sentimento da democracia “levou os homens a acreditar que trabalhando juntos
podem construir, progressivamente, uma vida melhor para todos, do mesmo modo
que o levou a perceber o enriquecimento na diversidade, e assumir que os votos
das urnas são melhores do que as balas para garantir uma ordem social, e que a
educação é um meio de desenvolvimento pessoal e não deveria ser negado a
ninguém”.
Com
intuito de educar para a vida, a Metodologia de Projetos deve considerar
processos pedagógicos que envolvam a responsabilidade, o respeito, a igualdade,
a autodireção, a autonomia, a proposição de soluções múltiplas, o pensamento
independente, enfim, a vivência da democracia em ações, atos e atitudes que
levem à aprendizagem. Assim, com essa visão democrática, a Metodologia de
Projetos pode incentivar a habilidade de escolher, de valorizar a si mesmo e ao
grupo, de conviver em situações de consenso, de aceitar e analisar com respeito
os posicionamentos de outras pessoas, de construir processos de autoconfiança
que permitam atuar com competência e independência. Nesse processo que engloba
a democracia e o posicionamento dialógico, o docente, além de atender a um paradigma
da complexidade que empreende uma visão integradora e global, precisa
considerar as exigências requeridas pela Sociedade do Conhecimento.
Concepção
de Metodologia de Projetos com enfoque complexo e globalizador
Entre os educadores, os
termos globalização ou globalizador têm sido questionados e até
repudiados, especialmente, pelo fato de aliarem estes termos ao posicionamento
de uma política neoliberal. No entanto, cabe ressaltar que esses termos em seu
sentido amplo podem ser tomados como: por inteiro, integral ou total. A
integralização e a visão do todo precisam ser aliadas à necessidade de buscar
um pensamento complexo que supere a fragmentação gerada nas áreas do
conhecimento.
Ao propor uma nova visão de globalização para o ensino.
Zaballa (2002, p.29) propõe uma retomada histórica da aprendizagem por projetos
e apresenta contribuições relevantes:
Diversas metodologias são empregadas sob
o termo globalização. As primeiras foram impulsionadas por Decroly com o nome
de centros de interesse e por Kilpatrick com o nome de métodos de projetos. A
seguir, e com um maior ou menor grau de diferenciação, foram sendo criados até
nossos dias outros métodos que podemos designar pelo nome de globalizados: o
sistema de complexos da escola de trabalho soviética, os complexos de interesse
de Freinet, a investigação do meio do MCE (Movimento de Cooperazione Educativa
de Itália), o currículo experimental de Taba, o trabalho por tópicos, os
projetos de trabalho global, etc. metodologias que hoje em dia são muito difundidas
e utilizadas, embora quase nunca do mesmo modo como foram criadas em seu tempo.
O foco comum entre as propostas
apresentadas recai na necessidade de encontrar uma metodologia que leve a uma
visão integrada, complexa e global do conhecimento. Portanto, não se contesta a
relevância dos conteúdos das disciplinas, mas não os tomamos como o mais
importante no caminho metodológico para produzir conhecimento significativo.
Assim, torna-se como referência a proposição de Zaballa (2002, p.28), quando se
propõe que, nos métodos globalizados, “os alunos mobilizam-se para chegar ao
conhecimento de um tema que lhes interessa, para resolver alguns problemas do
meio social ou natural que lhes são questionados, ou para realizar algum tipo
de construção”. Nesse sentido, a proposição não é só aprender os conteúdos
colocados nas disciplinas, mas o de alcançar o objetivo da produção do
conhecimento. Com essa visão, o termo enfoque
globalizador, que também poderíamos chamar de perspectiva globalizadora ou
visão globalizada, caracteriza a maneira de organizar os conteúdos a partir de
uma concepção complexa ou holística do ensino, na qual as principais funções da
docência e da aprendizagem sejam a produção do conhecimento e a intervenção na
realidade.
Com referência a esta proposta, Leite, Gomes &
Fernandes (2001) recomendam que a prática pedagógica instigue os alunos a
aprender. Eles devem saber por que estão transitando naqueles conteúdos, para
que eles servem e como se relacionam com outros conhecimentos. Eles devem sentir-se
implicados nas situações de aprendizagem e devem considerar esses momentos como
de discussão, negociação e decisão. Entre a produção individual e coletiva
reservem momentos de elaboração, acreditando que a colaboração entre pares é
importante e decisiva para tomadas de posições. O enfoque globalizador implica
partir de situações complexas ou holísticas. Segundo Zaballa (2002, p.35),
trata-se, portanto, de uma visão
metadisciplinar, em que cada disciplina proporciona uma parte mais ou menos
fundamental conforme o problema de conhecimento que a situação coloca e, em seu
tratamento educativo, obriga a estabelecer, em algum momento, quando se aborda
a situação a partir de uma só disciplina, relações com outras
(interdisciplinaridade) e quando é possível superar a rigidez de uma
organização escolar distribuída em disciplinas, o enfoque globalizador dá lugar
a métodos globalizados.
Acredita-se que vale a
pena optar pelos métodos globalizados para oferecer uma Metodologia de
Projetos, especialmente por relacioná-lo ao paradigma da complexidade, à
Sociedade do Conhecimento e a uma aprendizagem baseada numa visão global. Com
essa visão, Leite, Gomes & Fernandes (2001) apresentam uma proposta de
projetos designados por TEIAS (Tecer Estratégias Interactivas e Articular Significados),
na qual seguem uma perspectiva que concebe o ato de ensinar como um processo
dialógico, flexível e participativo. Esse ato que desencadeia atitudes críticas
que contemplam pontos de vista diferenciados. Afinal, busca-se uma visão
complexa e global nas situações de aprendizagem e de uma organização do
conhecimento que privilegie o trabalho colaborativo, os processos de ajuda
entre professores e alunos e entre alunos e alunos.
Opção
pela Metodologia de Projetos
A proposição de
Metodologia de Projetos readquire pertinência neste início de século quando
abre possibilidades para que o professor possa desenvolver a prática educativa
tendo como princípios: a complexidade, a visão de totalidade, a conexão das
diversas áreas do conhecimento, o espírito crítico reflexivo, a busca da
formação para a cidadania e a recuperação do posicionamento ético.
A teoria da complexidade propõe a
reaproximação das partes no todo e a Metodologia de Projetos apropria-se da
nova visão para desencadear atitudes epistemológicas, como propõe Boutinet “O
recurso ao projeto como instrumento de investigação a serviço de uma atividade
de concepção gera um novo estilo epistemológico centrado na interdependência
sujeito-ator/objeto de investigação” (2002, p.149). O projeto permite ao aluno
a vivência do ato criador, pois não indica certezas absolutas e nem respostas
programadas. Cria possibilidades e mostra variantes nas quais os alunos
precisam manifestar seu posicionamento.
A proposição de métodos globalizados centra-se na visão complexa
ou na visão do todo. Esta visão enfatiza a superação das propostas
disciplinares, como Zaballa (2002, p.26) apresenta
essa necessidade de modelos integradores
que convivem inescusavelmente com conhecimentos superespecializado implica que
o debate sobre os conteúdos escolares e sua organização seja cada vez mais
importante. Se por um lado é possível responder problemas profissionais e
científicos sem dispor de um conhecimento disciplinar, ao mesmo tempo a nós,
professores e professoras de nossa época, corresponde renunciar às
particularidades e buscar em comum a restauração dos significados humanos do
conhecimento. Ação implica, a fim de identificar o que é relevante para a
educação, recobrar os contatos perdidos entre as diferentes disciplinas como única
via para restaurar a aliança entre ciência e sabedoria.
Em termos de complexidade, a
Metodologia de Projetos permite a busca de pluralidade de caminhos e respostas,
que se apresentam ora se complementando, ora se antagonizando. Esse processo
exige que o aluno tenha discernimento para optar e escolher as possíveis
soluções para a problemática levantada. O ensino por projetos permite
progressivamente desvelar, manifestar e investigar conhecimentos que auxiliem
na compreensão e na apropriação de uma situação singular. A complexidade, a
diversidade, a mobilidade das situações e das decisões exigem o envolvimento do
professor e dos alunos em uma interconexão entre a concepção e a execução da
ação. Essa compreensão proposta numa visão crítica e ética possibilita
transportar a vivência e a aprendizagem do projeto para outras situações reais
que o aluno enfrenta na vida.
A opção por um ensino baseado em
projetos proporciona uma aprendizagem pluralista e permite articulações
diferenciadas de cada aluno envolvido no processo. A escolha do ensino aliado à
pesquisa, com uma abordagem crítica, que envolva um processo de investigação
individual ou coletiva, permite aos alunos acessar diferenciadas maneiras de
aprender, especialmente de aprender a aprender.
A
Metodologia de Projetos indica um procedimento para lidar com o conhecimento,
superando a perspectiva de acumulação e memorização de informações. Enfoca-se a
aprendizagem significativa e o conhecimento em constante transformação. A
metodologia em destaque, ao partir de problemas, exige uma investigação que
pode propiciar a visão de todo. Assim, o envolvimento dos alunos no processo
investigativo do conhecimento é contemplado por diferentes pontos de vista e
pela multiplicidade de opiniões. Com esse desafio, cabe ao estudante discernir
sobre a relevância das informações coletadas e ter autonomia para eleger os
conteúdos significativos para responder às questões em foco.
O professor e o aluno, numa ação
conjunta, precisam aprender a investigar e a pesquisar. O docente, por ser mais
experiente, tem a responsabilidade de desencadear este processo e buscar
investigar e fornecer as primeiras pistas sobre o conhecimento produzido. Este
conhecimento pode estar disponível nas bibliotecas, nas redes informatizadas,
nos livros, nos CDs, nos periódicos, nas revistas especializadas, entre outros.
Abrir possibilidades de investigar em recursos variados possibilita levar o
aluno a aprender a aprender, como e onde buscar a informação e como produzir
conhecimento próprio por meio da informação coletada. O processo de
investigação pode partir de pontos norteadores apresentados pelo professor. As
sugestões de caminhos que forneçam alguns itens ou bibliografia básica podem
auxiliar a aprendizagem do aluno. No encaminhamento pedagógico, o professor
deve deixar claro para os alunos que eles podem e devem buscar com autonomia
outras fontes de informações.
A proposta de Metodologia de Projetos
enfatiza a necessidade de partir de um processo de aprendizagem que tem sentido
para os alunos. A opção pela Metodologia de Projetos se justifica pela
possibilidade de realizar atividades individuais aliadas às coletivas. A
escolha da problematização na Metodologia de Projetos permite conectar a
aprendizagem às necessidades que o aluno encontrará na realidade. Nesse
contexto, para Zaballa (2002, p.205) a Metodologia de Projetos: “Vincula as
atividades escolares à vida real, tentando que se pareçam com ela o máximo
possível. Dá-se importância aos impulsos das ações, das intenções e aos
propósitos e às finalidades da ação”. A proposição de atividades individuais e
coletivas exige a formação dos alunos para iniciativa de trabalhar com espírito
de grupo, de colaboração e de cooperação.
A Metodologia de Projetos permite
envolver múltiplas atividades, sejam manuais, intelectuais, artísticas,
estéticas ou sociais. A visão de Zaballa (2002, p.2005) amplia a relevância da
Metodologia de Projetos quando acrescenta que: “Favorece a concepção da
realidade como um fato problemático que é preciso resolver e responde ao princípio
de integração e de totalidade, o que leva ao ensino globalizado, isto é, não
existem cadeiras isoladas, porque os projetos incluem todos os aspectos da
aprendizagem: leitura, escrita, cálculo, expressão gráfica, etc.”.
A possibilidade de acolher múltiplas
atividades leva a refletir que a metodologia de projetos, demanda a
participação, a investigação, a pesquisa e a produção de conhecimento. Inclui a
procura de caminhos investigativos nos quais os alunos podem aventurar-se,
correr riscos, localizar a informação e depurá-la. Neste processo de pesquisa,
os alunos podem discernir o que se torna relevante nas informações colhidas e
conectar conteúdos correlatos que deem sentido para o aprender.
As informações desencadeadas pelas
indagações propostas no projeto de aprendizagem permitem uma atualização dos
conhecimentos, pois os projetos de trabalho são uma resposta à necessidade de
realizar “uma organização globalizada e atualizada dos conhecimentos e das
informações trabalhados na escola. O sentido de globalização não consiste em um
somatório de informações disciplinares, mas em encontrar o nexo, a estrutura
cognoscitiva, o problema central, que vincula os conhecimentos e possibilita a
aprendizagem” (HERNÁNDEZ, 2000, p.134-135).
A necessidade de oferecer uma
aprendizagem que leve à autonomia pessoal, ao espírito crítico-reflexivo, à
formação de valores éticos e solidários, pressupõe processo que propicie
envolvimento e responsabilidade no sentido de buscar atitudes baseadas na
democracia e na participação. A Metodologia de Projetos representa uma
perspectiva pedagógica relevante, pois trabalhar a partir de problemas
representa possibilitar novas atividades e novas maneiras de acessar o
conhecimento e de aprender.
O
docente precisa ter clareza de que essa metodologia supõe uma proposição prévia
de etapas ou fases, que tendem a garantir um andamento que incorpore os
imprevistos e as alterações, sem que pareçam medidas tomadas de improviso e
desprovidas de sentido. Isso é possível porque o projeto deve corresponder aos
interesses de alunos e professor, de modo que seja organizado para integrar as
sugestões e as atividades cuja viabilidade devem ser discutidas em conjunto.
Assim, pode-se verificar ao longo do percurso que um ou outro obstáculo não
invalida o projeto. Pelo contrário, enriquece o que foi programado, com a
função de repensar o problema e provocar a participação efetiva do aluno. Essa
pode ser uma ocasião de grande enriquecimento, tanto para o professor quanto
para os alunos, que estarão diante de um problema concreto a ser resolvido.
Os projetos contribuem para que os
alunos participem e se envolvam em seu próprio processo de aprendizagem e o
compartilhem com outros colegas. A metodologia exige que o professor enfrente
desafios de mudanças, diversificando e reestruturando, de forma mais aberta e
flexível, os conteúdos escolares. Segundo Martins (2001, p.18), “Os projetos
investigativos que envolvem trabalho ou pesquisa são propostas pedagógicas,
interdisciplinares, compostas de atividades a serem executadas por alunos, sob
orientação do professor, destinadas a criar situações de aprendizagem mais
dinâmicas e efetivas, pelo questionamento e pela reflexão”.
Cabe enfatizar que os projetos
precisam ser abertos para discussão, porque não se trata de planejamento
minucioso que engessa a aprendizagem do aluno ou de programa preestabelecido no
qual todos os alunos serão obedientes e silenciosos, ou ainda, uma proposta de
sujeição na qual o professor delibera sobre a proposta e o aluno executa.
Trata-se, sim, de proposições de procedimentos que permitam discutir o processo
de aprendizagem, a produção de conhecimento com autonomia, criticidade e
espírito investigativo. Assim, a Metodologia de Projetos tem a finalidade de
organizar o trabalho escolar, pela busca de conhecimentos por meio de
atividades desenvolvidas pelos alunos, mediadas pelo professor, procurando,
dessa maneira, estabelecer a relação entre teoria e prática da aprendizagem.
A proposição da Metodologia de
Projetos tende a criar processos reflexivos que permitam aos alunos
argumentarem e defenderem suas ideias. Segundo Martins (2001, p.23), a
concepção de pedagogia investigativa que corresponde ao ensino por projetos na
escola tem sido “destinada a levar os alunos não só a buscar informações, mas
também a adquirir habilidades, mudar comportamentos, a ver coisas de maneiras
diferentes, a construir seu conhecimento de forma prazerosa e transformadora,
pela constante integração, cooperação e criatividade, tendo em vista a
construção do cidadão competente e produtivo”.
A caracterização da Metodologia de
Aprendizagem por Projetos leva a optar por uma abordagem progressista (FREIRE,
1997), que, ao ser crítica, envolve processos de mudanças e de transformação,
que englobam todos os níveis de intervenção educativa. Os educadores
progressistas precisam se tornar leais aos ideais de construção de uma
sociedade mais justa e igualitária, pois como alerta Fernandes (2001, p.36) os
professores ao optarem por uma abordagem metodológica crítica e reflexiva
precisam ser leais “ao sonho de uma sociedade menos perversa, menos
discriminatória, menos classista, menos racista e menos sexista do que esta.
Para isso, têm de ter uma prática/ação coerente com esse sonho; é uma exigência
ética”.
O processo de mudança
atinge múltiplos segmentos institucionais e pessoais. Segundo Martins (2001,
p.27),
muda
o método tradicional de tudo dizer aos alunos, agora substituídos pelos
procedimentos de trabalhar com projetos investigativos ou de pesquisa. Muda a
função da escola, agora preocupada em preparar para a vida, para atuar na
sociedade e se integrar nela. Muda o papel do professor, que deixa de ser o
centro do ensino e torna-se o orientador do estudo e do trabalh0o do aluno.
Muda o trabalho do aluno, que deixa de ser um ouvinte e repetidor do que lhe
informam e passa a ter uma participação ativa, interessada e criativa na
construção de seus conhecimentos.
Nestas últimas décadas,
configura-se a ação docente com um posicionamento dialético, pois este implica
um movimento constante de renovação e de reconstrução. Retoma-se neste momento
o novo paradigma da ciência, o paradigma da complexidade, focalizando a
superação da fragmentação na busca da visão do todo. Esse movimento de inovação
paradigmática leva a contemplar múltiplas dimensões e empreende processos de
aprendizagem que permitam provocar o equilíbrio entre pesquisa, ação e reflexão
na produção do conhecimento.
Numa fase inicial do projeto, o aluno,
acostumado a ser instruído mecanicamente numa abordagem tradicional e a
obedecer ao professor, apresenta-se confuso e angustiado. O professor precisa
ter paciência histórica para entender e acompanhar o aluno nesse processo de
mudança de metodologia. Para tanto, deve ter o cuidado de discutir o projeto
com os alunos, esclarecer as fases propostas e estimulá-los a participarem do
processo. Afinal, o estudante está aprendendo a projetar e precisa superar as
certezas e as respostas prontas e inquestionáveis. O crescimento dos alunos
aparece quando relaxam a defensibilidade e entendem que dependerão uns dos
outros, para aprenderem num processo emancipador com autonomia e espírito
reflexivo.
O docente precisa declarar seu
envolvimento e credibilidade na competência e qualidade dos alunos e,
especialmente, na confiabilidade de que todos os alunos podem e são capazes de
realizar as atividades propostas (BEHRENS, 2000b). Os procedimentos
metodológicos são diferenciados, mas os alunos assumem compromissos com o
próprio grupo e passam a produzir para o projeto que estão desenvolvendo em
função de sua aprendizagem e não simplesmente para cumprir um trabalho
acadêmico pedido pelo professor. O aluno passa a educar-se e a cumprir com
responsabilidade compromissos pessoais firmados com o grupo e com o professor.
Num primeiro momento, as atitudes individualistas e conservadoras são pautas de
discussões no grupo e merecem ser atendidas e articuladas pelo professor, que
tem o papel de mediador do novo processo. O professor que não está habituado a
propor situações de diálogo e de questionamento sente dificuldade inicial para
abandonar a abordagem tradicional, conservadora e autoritária para conviver com
seus alunos.
No entanto, torna-se urgente e
necessária uma ação didática que viabilize a produção do conhecimento, e esta
reconstrução da prática pedagógica exige do professor e dos alunos uma nova
aprendizagem tanto nas atividades propostas pela metodologia, como nas atitudes
e na condução do processo metodológico. Cabe a análise de que o professor acostumado
com verdades e certezas absolutas passa a questionar sua própria docência. Cabe
o comentário de Domingues (In:
LEITE, MALPIQUE & SANTOS, 1993, p.24) de que o professor passa a ter
“dúvidas acerca da sua competência para orientar os educandos nos problemas tão
diversos e às vezes tão inesperados que eles se colocam. Os educandos que se
veem de repente entregues a si mesmos, depois de longos anos de ensino
tradicional, sentem-se um pouco desorientados”.
No caso de existirem situações
iniciais conflituosas, os alunos devem ser convidados para refletirem sobre as
múltiplas possibilidades de resolverem o problema proposto. Ao conviverem com o
grupo, aprendem que o processo de negociação e de entreajuda tende a apresentar
qualidade na aprendizagem.
O desencadeamento de
ensino por projetos que provoque a produção de conhecimento individual e
coletivo exige uma prática pedagógica que contemple um paradigma da
complexidade, com enfoque globalizador, portanto crítico, reflexivo e
transformador. Para tanto, Behrens (2000b) assinala que o paradigma emergente e
complexo exige uma interconexão dos pressupostos teóricos e práticos da
abordagem progressista, da visão holística e do ensino com pesquisa.
Metodologia
de Projetos com foco na aprendizagem
A opção por um ensino
baseado em projetos proporciona a possibilidade de uma aprendizagem pluralista
e permite articulações diferenciadas de cada aluno envolvido no processo
educativo. A escolha do ensino com pesquisa, numa abordagem crítica, que
envolva um processo individual ou coletivo, dá aos alunos a oportunidade de
diversificar as atividades metodológicas e propicia o acesso a maneiras
diferenciadas de aprender. Essa metodologia exige que professores e alunos, ao
aprender a aprender, numa ação conjunta, aprendam a investigar e a pesquisar.
A
Metodologia de Projetos busca aprendizagem a partir de problematizações, nas
quais são apresentados pontos norteadores, que instrumentalizam o processo de
investigação. Com essa visão, o docente pode fornecer alguns itens ou
bibliografia que podem auxiliar os alunos com subsídios e com outras fontes de
informações. Portanto, nessa metodologia, os estudantes terão que pesquisar,
discutir, elaborar, e, especialmente, discernir entre o que é ou não relevante
para construir seu próprio conhecimento durante o processo.
A Metodologia de Projetos exige uma
aliança com uma abordagem pedagógica crítica, rica e significativa. Sem a opção
paradigmática da complexidade ou emergente, numa abordagem pedagógica
inovadora, a metodologia tenderia a ser um receituário, com regras,
regulamentos e ordens a serem cumpridas. Portanto, o sucesso da Metodologia dos
Projetos precisa levar em consideração a abordagem pedagógica que caracteriza o
processo de aprendizagem. Com essa clareza, acredita-se que a opção por uma
abordagem progressista (FREIRE, 1997; GIROUX, 1997) seria oportuna e
significativa. Essa abordagem visa à transformação da sociedade e aponta a
educação como o grande caminho para a mudança social. Neste sentido, cabe
ressaltar que agregada à nova visão paradigmática da ciência aparece a
tendência progressista, proposta por Paulo Freire, adquirindo maior ênfase no
Brasil, a partir dos anos oitenta. A proposição de uma Metodologia de
Aprendizagem por Projetos que agregue a abordagem progressista pressupõe a
criação de possibilidades de discussão crítica e dialógica para produzir
conhecimento relevante e significativo.
O desafio de oferecer uma Educação
Superior crítica e reflexiva exige que se proponham questões contempladas em
problematizações que vinculem os temas à realidade circundante. A opção
significativa de ensinar e, especialmente, de aprender a aprender leva
Hernández et al. (2000, p.134-135) a
defenderem que aprendizagem por projeto: “É uma resposta à necessidade de
realizar uma organização globalizada e atualizada dos conhecimentos e das
informações trabalhadas na escola. O sentido da globalização não consiste em um
somatório de informações disciplinares, mas em encontrar o nexo, a estrutura
cognoscitiva, o problema central, que vincula os conhecimentos e possibilita a
aprendizagem”.
Os projetos precisam ter
sentido para os alunos, ser construídos de modo significativo, articulado num
clima que favoreça a aprendizagem, apresentando uma estrutura lógica que
facilite o entendimento do aluno. Na visão de Hernández (2000, p.182),
o que
aparece como defensivo é que a aprendizagem e o ensino são realizados por meio
de uma trajetória que nunca é fixa, mas que serve como fio condutor para
atuação do docente em relação aos alunos. Tê-lo presente serve de auxílio, de
ponto de referência, sobre o que significa um projeto em relação ao diálogo e à
negociação com os alunos, à atitude interpretativa do docente, aos critérios
para a seleção de temas, à importância do trabalho com diferentes fontes de
informação, à relevância da avaliação como atitude de reconstrução e
transferência do apreendido, etc.
A relevância da
Metodologia de Projetos apresenta-se quando o docente precisa declarar seu
envolvimento e credibilidade na competência e qualidade dos alunos e,
especialmente, de que todos os alunos podem e são capazes de realizar as
atividades propostas. Nesse contexto, acredita-se que o envolvimento do
professor e dos alunos numa Metodologia de Aprendizagem por Projetos permite
contemplar duas dimensões: a individual
e a coletiva.
Na dimensão
individual, o aluno passa a educar-se e a cumprir, com responsabilidade,
compromissos pessoais firmados com o grupo e com o professor. Num primeiro
momento, as atitudes individualistas e conservadoras são pautas de discussões
no grupo e merecem ser atendidas e articuladas pelo professor que tem o papel
de mediador do novo processo.
A dimensão
coletiva proposta por meio dos procedimentos metodológicos permite que os
alunos assumam compromissos com o próprio grupo e passem a produzir para o
projeto que estão desenvolvendo em função de sua aprendizagem e não para um
trabalho acadêmico pedido pelo professor.
A
proposição da aprendizagem por projetos pode ser organizada de maneiras
diferenciadas, mas, em geral, inicia com uma problematização. Esse processo
pode ser desencadeado com a proposição de problema construído junto com os
alunos ou elaborado pelo professor. A problematização pode ser composta também
por várias perguntas interligadas de pesquisa.
O início do processo metodológico que
contemple a problematização envolve a proposição de questionamentos mais gerais
ou mais específicos focados em uma única temática ou que demandem a
interconexão de vários temas de estudo e aprendizagem. Segundo Morin: “Enquanto
fragmentado, o saber não oferece nem sentido, nem interesse, ao passo que,
respondendo às interrogações e curiosidades, ele interessa e assume sentido”
(2000, p.22). Para buscar a visão complexa é preciso ensinar a duvidar e,
assim, superar a visão de certeza. A problematização ajuda nesse processo de
superar as certezas. Para tanto, o aluno precisa ter discernimento ao optar e
eleger possíveis soluções que venham ajudar a responder ao problema que se
propôs investigar.
Não há respostas predeterminadas, nem
respostas prescritivas ou indicadas por um único autor. Portanto, adverte-se
que não se pode restringir a consulta ao uso de um único livro-texto. Deve
haver, sim, a produção do conhecimento individual e coletivo, na qual o aluno
se envolva na investigação e na pesquisa requerida pelo problema. A Metodologia
de Projetos pode favorecer o processo de criação de estratégias de
aprendizagens e de organização dos conhecimentos, propiciando a busca do
tratamento da informação e a relação entre os diferentes conteúdos em torno de
problemas que facilitem aos alunos a produção do conhecimento.
A aprendizagem baseada em projetos
requer um estudo e planejamento prévio por parte do docente, que deve
investigar qual o problema que poderá absorver a proposta de conhecimentos que
precisam ser envolvidos naquela etapa de aprendizagem dos alunos. A
problematização desencadeia o processo de aprendizagem e funciona como
provocação que estimula e instiga os alunos a se envolverem no projeto.
Enfatiza-se que a problematização pode ser sugerida a partir da proposição do
docente, ou elaborada pelos estudantes.
O foco da Metodologia de Projetos é o
processo de aprendizagem, em especial a presença de caminhos investigativos que
levem ao aprender a aprender, como ressalta Correia (In: MALPIQUE, LEITE & SANTOS, 1993,
p.28): “O estudo por projetos centrado em problemas culmina geralmente com a
produção, por parte do grupo empenhado na resolução de um problema, de um
relatório, o qual deve contemplar, entre outras coisas, os dados colhidos pelos
estudantes durante o período de investigação e apontar uma ou várias propostas
de solução do problema que serve de base ao projeto”. No entanto, acredita-se
que o mais relevante nesse processo é que o aluno aprenda a aprender a resolver
problemas que possam auxiliá-lo para enfrentar a vida.
Cabe alertar aos docentes que a
proposição de uma aprendizagem pela Metodologia por Projetos pode, num primeiro
momento, parecer confusa e ser confundida com atividades livres, aquelas que
podem ser ou não realizadas. Pode, ainda, ser realizada por alguns alunos,
enquanto os outros ficam conversando ou desenvolvendo outras atividades. Esse
cuidado precisa ser mediado pelo professor, que deve estar atento para essas
novas situações em sala de aula.
No entanto, a exigência e o rigor não
podem ser confundidos com engessamento ou como um método rígido a ser seguido,
mas busca envolver os docentes e os discentes na investigação sobre os
conteúdos e informações. Para tanto, o docente precisa acessar um amplo
espectro de conhecimento sobre a problemática proposta e estar disposto a
dialogar e a construir conhecimento com os alunos.
O homem, por viver em
sociedade, está sempre envolvido com situações problematizadoras, que requerem
discernimento, rapidez de raciocínio e autonomia para tomar decisões. Cabe o
alerta de Freire & Freire (2001, p.35) aos educadores progressistas: “Creio
que temos a responsabilidade ética de revelar situações de opressão. Acredito
que seja nosso dever criar meios de compreensão de realidades políticas e
históricas que deem origem à possibilidade de mudança. Penso que seja nosso
papel desenvolver métodos de trabalho que permitam aos oprimidos(as), pouco a
pouco, revelarem sua própria realidade”. Assim, o docente precisa propor
problemas que se aproximem da realidade cotidiana, com intuito de que o aluno
possa ser preparado para resolver criticamente situações relevantes e
significativas que se apresentam diariamente em sua vida. Nesse sentido, ir
além, procurar investigar problemas que tornem os alunos competentes para
modificar a realidade circundante, procurando transformar a sociedade. A
contribuição de Correia (1993, In:
LEITE, MALPIQUE & SANTOS, p.30) defende essa perspectiva:
É
neste contexto que deve ser inserido o estudante por projeto centrado em
problemas, pois para além deste método contribuir para o acréscimo de
informações em nível cognitivo, o que contribui também, e em larga medida, para
auxiliar o aluno a (re)descobrir, quer aquilo que tem dentro de si, quer aquilo
que o rodeia. Assim, o estudo por projetos centrados em problemas surge como
uma forma de levar o estudante a agir sobre a informação, integrá-la no seu
conhecimento anterior, reestruturando-a, levando-o, também, a pensar
criticamente, trabalhar em equipe, resolver problemas, emitir juízos de valor,
comunicar, questionar e questionar-se de acordo com suas experiências,
motivações e necessidades.
O desencadeamento de
estudo por projetos pode provocar a produção de conhecimento individual e
coletivo e exige uma prática pedagógica que contemple um ensino focado na
aprendizagem complexa, crítica, reflexiva e transformadora.
A partir das pesquisas sobre a prática
pedagógica junto aos professores universitários, Behrens (2000, p.108) busca
propor a interconexão dos pressupostos teóricos e práticos para reavaliar a
ação docente inovadora. Defende, para o Paradigma Emergente ou da Complexidade,
uma aliança entre os pressupostos da visão sistêmica, da abordagem progressista
e do ensino com pesquisa, instrumentalizada pela tecnologia inovadora.
Com a visão do paradigma
da complexidade um enfoque globalizador permite a orquestração dessa aliança
propondo o entrelaçamento das proposições da abordagem progressista, enquanto propositora de relação dialógica,
crítica, reflexiva, com ações articuladas, trabalho coletivo e busca da
transformação da realidade; na abordagem do Ensino
com Pesquisa, quando enfoca a parceria dos alunos com o professor, na busca
da produção do conhecimento e na superação da cópia e da reprodução; e na abordagem holística, quando propõe a
reaproximação das partes na busca da visão do todo, de um sistema integrado e
interconectado. Com intenção de entrelaçar e interconectar as abordagens, que
venham atender as exigências do paradigma da complexidade, sugere-se fases para
compor a Metodologia de Projetos.
Fases
da Metodologia de Projetos num paradigma da complexidade com enfoque complexo e
globalizador
A proposição de fases
para realizar um projeto de aprendizagem parece levar a dar receitas prontas
para o professor. A intenção não é esta, por isso, enfatiza-se que estas fases
são sugestões para que o professor possa construir sua própria proposta. O
professor, em cada realidade e em cada disciplina, precisa avaliar a
pertinência de oferecer essa metodologia, bem como a proposição das fases aqui
apresentadas. Acredita-se que o docente tem discernimento para optar e resolver
a proposição de sua prática pedagógica.
Existem várias modalidades e
caracterização do Trabalho ou Metodologia por Projetos. Destaca-se, entre
outras, a proposição de Hernández (2000, p.182), que propõe as seguintes fases
para desenvolver o projeto: a) Parte-se de um tema ou de um problema negociado
com a turma; b) Inicia-se um processo de pesquisa; c) Busca-se e selecionam-se
fontes de informação; d) São estabelecidos critérios de organização e
interpretação das fontes; e) São recolhidas novas dúvidas e perguntas; f)
Representa-se o processo de elaboração do conhecimento vivido; g) Recapitula-se
(avalia-se) o que se aprendeu; h) Conecta-se com um tema ou problema.
A aprendizagem e o ensino na
Metodologia de Projetos não aparecem como uma trajetória fixa e, sim, como
proposições que irão sendo selecionadas a partir da discussão com os alunos
envolvidos no processo. Portanto, a negociação, o consenso e o envolvimento são
características essenciais na proposição de Metodologia de Projetos.
Alguns
cuidados precisam ser considerados ao elaborar a Metodologia de Projetos, ou
seja, o posicionamento do docente sobre a visão de homem e de mundo que ele
deseja empreender com seus alunos. Nesse momento, acredita-se que esse novo
posicionamento possa ser atendido pelo paradigma da complexidade, especialmente
se o professor conseguir optar, na metodologia, por uma aliança entre os
pressupostos da visão sistêmica, da abordagem progressista e do ensino com
pesquisa. Alerta-se que o professor ao construir a Metodologia de Projetos
precisa considerar também as opções oferecidas pela instrumentalização da
tecnologia inovadora.
A partir dessa teia de abordagens
metodológicas, retoma-se a proposta de Behrens (1999), na qual são apresentadas
sugestões de fases para compor uma Metodologia de Projetos. Enfatiza-se que a
intenção de expor estas fases pode parecer um esquema fechado para ser seguido,
no entanto, as sugestões de fases têm a finalidade de criar possibilidades
metodológicas que venham atender a uma visão mais globalizada do ensinar e do
aprender. Portanto, cada professor, de acordo com sua realidade, pode e deve
ampliar, complementar, reelaborar ou adaptar a proposta. Numa abordagem
crítica, reflexiva e transformadora, a Metodologia de Projetos pode levar à
formação para cidadania e à aprendizagem significativa para vida.
Considerando-se estes aspectos, reapresenta-se a proposta construída por
Behrens (2000), quando propõe fases significativas para desencadear uma
Metodologia de Projetos.

Fonte: Proposta reeditada de Behrens, Marilda Aparecida.
Metodologia de Projetos num paradigma emergente. In: Moran, José Manuel;
Masetto, Marcos; Behrens, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.
1) A
discussão do projeto na fase inicial se
torna significativa, pois o professor apresenta uma minuta da proposta que
elaborou e a submete à apreciação dos alunos.
A discussão do projeto
envolve a participação dos alunos. O docente precisa ter clareza de que há
necessidade de abrir possibilidades para que eles possam apreciar, sugerir e
reconstruir, se necessário e pertinente, as fases propostas para desenvolver a
aprendizagem por projetos. A aceitação das opiniões dos alunos numa relação
dialógica é significativa e relevante para o sucesso da produção do
conhecimento. Os alunos que ainda não estão habituados a conviver num processo
participativo encontram algumas dificuldades de se manifestarem com receio de
sofrerem repressões ou constrangimento na sala de aula. O docente precisa
deixar claro para a turma a abertura para discussão, a possibilidade de
crítica, enfim, o ambiente de participação responsável que irão caracterizar o
projeto desde a fase inicial.
2) A
problematização tem o papel de
desencadear a discussão e o envolvimento dos alunos na temática do projeto.
A criação e a elaboração
do problema é a competência mais exigida do professor no projeto. No momento da
formulação prévia do problema ou na proposta de formulação junto com os alunos,
o docente precisa ter clareza da temática que será envolvida no projeto. O
professor é o mediador da construção do problema, antecipadamente, ou no início
do projeto junto com os alunos. Na verdade, a qualidade da indagação determina
o sucesso inicial do envolvimento dos alunos. A proposição do problema torna-se
a fase significativa para garantir o desenvolvimento da temática. Trata-se da
fase mobilizadora, na qual os alunos precisam ser incentivados e motivados a
pesquisar. O questionamento precisa ser proposto de maneira a estimular a
participação dos alunos. Os problemas retirados da realidade devem levar em
conta as vivências, os interesses e as possibilidades de realizar experiências
significativas. Os alunos e alunas, nesta fase, precisam ser envolvidos ou envolvidas
para despertar o interesse em conhecer ou intervir em uma parte da realidade,
que é complexa. É o momento de identificar os questionamentos, as perguntas e
os problemas principais que a realidade complexa instiga, propõe ou suscita.
Neste
sentido, Zaballa (2002, p.142) apresenta:
a
aproximação metadisciplinar com a realidade permite que nos desvinculemos de
muitos dos esquemas estereotipados das disciplinas, mas somente podemos
alcançar o conhecimento quando somos capazes de saber traduzir a ação de intervenção,
em uma série ou conjunto de questões explícitas ou problemas: O que é? Como é?
De onde provém? Como funciona? Por que ocorre tal situação? Quais são os meios
para...? Qual é a melhor maneira de...?
Os questionamentos podem
se estender com outras indagações: O quê? Por quê? Como? Onde? Quando? E,
ainda: Com que finalidade? Como acontece? Entre outras propostas que o tema
suscitar.
No início do projeto, convém que o
professor ofereça aos alunos um elenco de temas que apresente o desdobramento
dos assuntos que serão investigados pelos alunos. Essa atitude pode auxiliar na
busca dos conteúdos a serem abordados pelo problema. Os alunos podem e devem
superar as indicações básicas dos temas, mas o professor precisa garantir a
provocação de determinados subtemas que deverão ser aprendidos naquele projeto.
Não se trata de engessar a produção do conhecimento, mas de orientar o mínimo
que deverá ser envolvido no projeto.
3) A
contextualização do objeto de estudo tem
a finalidade de localizar historicamente a temática.
Diante do universo de
informação, o professor precisa ajudar os alunos a delimitarem o objeto de
investigação. Das múltiplas perguntas e respostas a serem investigadas é
preciso selecionar quais as que interessam pesquisar em função da aprendizagem
a ser proposta. Nesta fase, o professor precisa ter clareza de aonde quer
chegar, ou, pelo menos, quais os pontos que deverão ser percorridos para
proporcionar a aprendizagem em foco.
O professor precisa preocupar-se em
mediar o projeto no sentido de explorar a temática. Com a exposição inicial, os
alunos devem perceber a abrangência teórico-prática e seus desdobramentos
sociais, históricos, econômicos, psicológicos e pedagógicos, entre outros.
Trata-se do momento de desafiar os alunos no sentido de buscarem as fontes de
informações necessárias para apresentar possíveis soluções para o problema.
O professor pode construir um rol de
subitens que estão envolvidos no projeto com a finalidade de apresentar para os
alunos possíveis conexões dos conteúdos. Não se trata de dar respostas prontas,
mas de alertar os alunos sobre como buscar informações que levarão às possíveis
contribuições e com elas responder às indagações do problema.
A indicação dos subitens pode auxiliar
no sentido de garantir um eixo de aprofundamento do tema. Assim, cria-se a
abertura de caminhos para investigar e orientar os alunos a buscarem os
conhecimentos pertinentes na rede de informações. Caso o professor não faça
essas indicações iniciais, o aluno pode ficar perdido no universo de informações
e sentir dificuldade para selecionar os conteúdos que venham dar conta de
responder à problematização e de produzir conhecimento significativo.
4) As
aulas dialogadas têm a finalidade de
ajudar os alunos na delimitação do tema e do esclarecimento de alguns caminhos
que possam auxiliar na aprendizagem significativa.
Nas
aulas expositivas dialogadas o professor apresenta os temas, os conteúdos e as
informações envolvidas na temática. O tema exposto pode auxiliar na orientação
da investigação de possíveis soluções para a problemática. A exposição
dialogada pode esclarecer e delimitar alguns assuntos pertinentes para a
investigação. Não se trata de ditar receitas para serem seguidas, mas de
explicitar possíveis caminhos para produzir conhecimentos sobre a problemática
proposta. As aulas expositivas dialógicas têm a finalidade de orientar a
pesquisa do problema. Essas aulas ministradas pelo professor não devem exceder
a vinte por cento da carga horária destinada ao desenvolvimento do projeto.
Nesta proposta metodológica, a ação docente precisa estar focada na abertura de
possíveis referências teórico-práticas, para resolução da situação-problema.
5) A
pesquisa individual é proposta para que o
aluno tenha chance de investigar a problemática, procurando as informações em
múltiplas fontes de conhecimento.
Os alunos precisam saber
que o livro-texto pode ser utilizado para a investigação inicial, mas não pode
se tornar o único acesso às possíveis respostas para o problema. A pesquisa
individual desenvolve atitudes de busca e de investigação nos diversos recursos
de que dispõe a Sociedade do Conhecimento. Neste processo inclui-se a pesquisa
na biblioteca, na videoteca, na rede informatizada e CD-ROM. Inclui-se nesse
processo investigativo a consulta a periódicos, a livros, a jornais e a
revistas especializadas.
O aluno precisa ser alertado sobre os
cuidados que deverão ter ao pesquisar na WEB, ou seja, na Internet. Acostumados
a validarem tudo que encontram por escrito, num primeiro momento, tendem a
acreditar no conteúdo apresentado na rede. No entanto, os conhecimentos
apresentados nos sites podem
apresentar conteúdos de qualidade duvidosa. Neste sentido, encoraja-se o aluno
para ser criterioso e seletivo ao eleger as informações relevantes para a
aprendizagem significativa, em especial nos recursos da internet. Esse processo
de seleção envolve uma aprendizagem relevante para formar cidadãos críticos e
reflexivos na Sociedade do Conhecimento.
Mesmo que a escola não tenha acesso à
rede de informação computadorizada, esse fato não impede que os alunos façam
investigações nos computadores disponíveis na comunidade. Os alunos podem ser
estimulados para buscarem as informações nos recursos informatizados
disponíveis em casa, no trabalho, nas bibliotecas, nas organizações públicas e
em outros locais. Alertam-se os professores que nesse momento histórico os
alunos não podem ser prejudicados se não dispuserem de computadores para
consulta.
O desencadeamento e a provocação da
pesquisa individual instigam os alunos a trazerem para sala de aula o material
investigado e a compartilhar com seus companheiros as possíveis informações
coletadas. Essa pesquisa individual é fase importante no projeto, pois a
investigação das informações irá proporcionar a qualidade no desencadeamento da
aprendizagem. O professor pode julgar oportuno sugerir alguns livros ou sites que apresentam qualidade para a
pesquisa. Afinal, o professor é o orquestrador da aprendizagem dos alunos. A
produção inicial do aluno precisa ser mediada pelo professor, pois uma boa
pesquisa será determinante para qualidade das demais fases a serem percorridas.
6) A
fase de produção individual permite
ao aluno a possibilidade de manifestar suas opiniões e apresentar sua produção
a partir da pesquisa realizada e compartilhada com seus colegas.
Nesta fase, a partir das
informações que os alunos acessaram, podem entender que o conhecimento é um
instrumento para indagar e intervir na realidade. Essa produção individual pode
ser apresentada num texto próprio sobre a problemática levantada, ou outro
procedimento que o docente julgar oportuno. Segundo Zaballa (2002, p.142),
“contudo, também deve deixar entender que essa intervenção, se desejamos que
seja o mais rigorosa possível, deve ser realizada no domínio de uma série de conteúdos
que, para sua aprendizagem, exige um trabalho formativo organizado e
sistemático”.
Os alunos trazem para sala de aula as
informações e os conteúdos que conseguiram coletar na pesquisa. A apresentação
do material coletado deve ser acompanhada da indicação das fontes consultadas.
Convém orientar os alunos sobre os procedimentos de pesquisa, especialmente no
que se refere às citações que podem enriquecer a apresentação. É comum o aluno
ficar confuso com o universo de informações pesquisadas. Assim, cabe ao
professor auxiliá-lo no processo de triagem, elegendo entre os conteúdos
pesquisados aqueles que tenham relevância para produção do conhecimento. O
professor precisa mediar à produção individual dos conhecimentos ajudando os
alunos a superarem as dificuldades iniciais.
Cabe
enfatizar que, entre as múltiplas possibilidades que foram investigadas, os
alunos precisam optar por aquelas que acreditam ser mais relevantes para
responder à problemática. A produção individual é a primeira manifestação
escrita a partir das informações. Portanto, consiste no registro inicial para
produzir conhecimento.
7)
A discussão crítica e
reflexiva se torna fase significativa no
projeto quando provoca os alunos para se manifestarem sobre o problema
investigado.
No decorrer do processo
da Metodologia de Projetos, o docente pode propor uma discussão crítica e reflexiva consubstanciada na pesquisa e na
produção individual. Esse procedimento permite que os alunos argumentem e
defendam suas ideias sobre a temática investigada. Com esse amadurecimento
crítico e reflexivo, os alunos podem acolher as opiniões dos companheiros ou
defender suas próprias convicções.
Nesta fase, em princípio, os alunos
passaram pela problematização, pela contextualização, pela pesquisa e pela
produção individual. Esse caminho investigativo leva ao preparo do aluno para
discutir a temática. A experiência vivenciada na Metodologia de Projetos
permite afirmar que as discussões são consubstanciadas pelo processo de
investigação e de posicionamento dos alunos frente à temática. O professor
precisa mediar a discussão e preparar questionamentos que provoquem os alunos
para focalizar a discussão crítica na problematização proposta.
A discussão crítica precisa envolver a
temática e investigar o aluno para pensar e refletir sobre seu papel como
pessoa e como cidadão frente ao problema investigado. Com essa visão da
formação para cidadania, agrega-se às discussões de questões que provoquem os
alunos para entender a realidade e criar responsabilidade para intervir nela.
No decorrer do processo de
aprendizagem, os próprios alunos levantam questões que levam a processos de
discussão entre pares. Portanto, não se trata de fase isolada e que só nesta
oportunidade haverá discussão, mas de propiciar um fórum de discussão que envolva
todos os alunos. Na realidade, o professor articula os momentos de participação
e procura abrir oportunidades para que todos possam se manifestar com
liberdade.
A garantia de participação de todos os
alunos depende da orquestração do professor no projeto e se torna relevante,
para que eles possam argumentar e defender suas ideias. Os dados discutidos
merecem ser registrados pelo professor e pelos alunos durante ou no final do
processo, com a finalidade de eleger os pontos significativos que foram contemplados
nesta fase de discussão da temática.
8)
A produção coletiva provoca o trabalho entre pares e permite
acoplar e interconectar as produções individuais realizadas pelos alunos.
A partir da discussão, os
alunos podem passar à produção coletiva.
As produções individuais são tomadas como o ponto de partida e servem para
consubstanciar a produção coletiva. As pesquisas realizadas e a produção
individual permitem coletar um grande volume de dados.
Recomenda-se que na produção coletiva
os grupos não excedam ao número de três ou no máximo quatro componentes. Esse
cuidado prende-se à possibilidade de que todos possam se envolver no processo,
gerando comprometimento ou evitando que os alunos possam participar de grupos
improdutivos devido ao número excessivo de componentes. A produção coletiva
propicia situações de confronto e de entendimento sobre o tema levantado. A
partir das informações coletadas, os alunos precisam interconectar os
conhecimentos pesquisados.
O professor pode retomar a
problemática e orientar os alunos para a produção coletiva no projeto. A falta
de orientação do docente pode levar os alunos a acumularem suas produções
individuais, sem discuti-las e sem elaborá-las. Recomenda-se que as produções
coletivas sejam entregues junto com as produções individuais, para que o
docente possa acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos.
O
trabalho individual e coletivo adquire características relevantes nesta
metodologia. No entanto, cabe esclarecer, segundo Legrand (1993, p.37. In: LEITE, MALPIQUE & SANTOS), que
a
realização do projeto dá lugar a uma alternância de trabalho individual e de
negociação coletiva. Não há produção coletiva no sentido próprio do termo. Só o
indivíduo é produtivo. Mas a produtividade individual deve, no projeto, resultar
de tomadas de decisão colegiada e regressar à apreciação colegiada. A
cooperação do grupo deve ser permanente sem provocar confusão em nível de
tarefas previamente definidas e distribuídas.
As fases tanto de
produção individual como de produção coletiva permitem propor a discussão e a
conexão de ideias e sugestões que trazem contribuições efetivas para os alunos,
enquanto pessoas e enquanto profissionais. Afinal, objetivam-se a formação dos
cidadãos críticos e reflexivos e a produção de conhecimento relevante e
significativo.
9)
A produção final possibilita a intervenção na realidade, com ações individuais
e coletivas entre pares na própria sala de aula, na escola e na comunidade.
Na fase seguinte, da produção final, o professor e os alunos
devem discutir a possibilidade de aplicação da produção individual e coletiva
numa atividade final. O foco desta fase é a intervenção na realidade. Esta fase
propicia aos alunos a possibilidade de compartilhar os conhecimentos produzidos
com toda a classe. Para tanto, podem apresentar suas produções individuais e
coletivas num documento que possibilite a apresentação dos textos ou a reunião
das produções em recursos eletrônicos que possibilitem o acesso de todos os
alunos envolvidos no projeto ou fora dele.
A disponibilização das produções na
sala ou na Internet pode se estender a trabalhos comunitários, por exemplo,
numa campanha de conscientização da comunidade sobre a problemática que está
sendo investigada. Acredita-se que a possibilidade de intervenção na realidade
seja realmente a meta desta fase. Para tanto, destaca-se a criatividade dos
alunos e do próprio professor para realizar este processo. Enfatiza-se que o
professor precisa provocar atividades que retomem a problematização frente à
realidade social. As vivências e as experiências que os alunos possam
desenvolver junto à comunidade permitem perceber a relevância da temática
investigada. Portanto, quanto mais os alunos intervirem em ações concretas,
mais significativa será a aprendizagem.
Sugere-se que a proposição de
campanhas de conscientização, entrevistas sobre a temática com as pessoas da
comunidade, elaboração de painéis sobre o tema, defesa pública das possíveis
soluções, vivência de júri simulado sobre a problemática em foco,
dramatizações, elaboração de fitas videofilmadas, montagem de programas de TV,
confecção de jornais para entregar na escola e na comunidade, elaboração de folders sobre o tema, construção de
página na internet, disponibilização das produções individuais e coletivas em sites ou home pages.
Acredita-se que o
professor pode apresentar sugestões para a produção final, mas recomenda-se que
realize uma sondagem com os alunos sobre como eles gostariam de produzir nesta
fase. A participação dos alunos nesta decisão propicia um melhor envolvimento e
provoca situações mais criativas no processo. Neste sentido, a participação, a
produção e a gestão dos grupos determinam a qualidade da aprendizagem e do
projeto.
10)
A avaliação formadora
da aprendizagem deve ocorrer ao longo do
processo.
A avaliação da
aprendizagem não terá uma fase específica, pois será proposta a todo o momento
de maneira contínua e acompanhará todo o processo do projeto. Portanto, não se
restringe a momentos finais de aprendizagem. Torna-se muito importante para o
aluno ter clareza do processo avaliativo desde o início do projeto. Esse
procedimento gera a possibilidade de que os alunos se manifestem e discutam a
avaliação, buscando o consenso sobre os critérios que deverão ser propostos com
clareza e com transparência. Acredita-se que o planejamento por meio de
contrato didático e o procedimento avaliativo por meio de portfólio sejam
procedimentos didáticos compatíveis com a Metodologia de Projetos. Por isso,
optou-se por desenvolver capítulo próprio para discutir o planejamento e a
avaliação na Metodologia de Projetos.
11)
A avaliação do projeto trata-se de fase significativa, pois permite aos alunos
se manifestarem sobre as suas vivências e as suas experiências ao longo do
processo metodológico.
A avaliação do projeto pode ser proposta durante o seu
desenvolvimento ou ao seu final. O levantamento de opiniões sobre o projeto o
projeto desenvolvido torna-se relevante e significativo. No ambiente criado
nesta metodologia, os alunos percebem a abertura dialógica para se manifestar
sobre o processo de aprendizagem. O professor precisa colher as sugestões,
discuti-las e depurá-las para recompor outra proposta de projeto ou de
problema. Enfatiza-se a relevância de criar possibilidades para que os alunos possam
manifestar suas contribuições sobre a vivência do projeto. O acolhimento das
impressões, opiniões e sugestões dos alunos são fundamentais para reconstruir o
projeto, ou subsidiar a proposição do próximo projeto.
Outra recomendação pertinente envolve
o alerta ao professor no sentido de torná-lo ciente de que os alunos estão
criticando o projeto e não o próprio professor. Com esse entendimento, o
docente pode perceber o sucesso e as dificuldades vividas durante o processo de
aprendizagem.
As sugestões dos alunos costumam ser
de grande relevância para construir novas propostas para serem investigadas.
Afinal, quem vivenciou o projeto foi o aluno. Portanto, ele pode se manifestar
com discernimento sobre a proposta. Cabe enfatizar que nos métodos
globalizadores, como a Metodologia de Projetos, essas fases explicitadas são
sugestões a serem analisadas. As fases são apresentadas como possibilidades e
não se tratam de receituário, regras ou regulamentos que precisam ser
rigorosamente cumpridos. A ordem das fases também pode ser alterada de acordo
com as necessidades de cada projeto.
A proposição pode variar de acordo com
as necessidades de cada momento de aprendizagem, pois: “Os métodos
globalizadores dão respostas à necessidade de que as aprendizagens sejam o mais
significativa possível e, ao mesmo tempo, coerentes com algumas finalidades que
pretendem a formação de cidadãs e cidadãos que compreendam uma realidade
complexa e participem dela. Portanto, poderíamos dizer que a forma mais
apropriada de organizar os conteúdos é a dos métodos globalizados” (ZABALLA,
2002, p.151).
Os métodos globalizados incluem outra
proposta de fases para desenvolver um plano de ação para concretizar uma
Metodologia de Projetos apresentada por Leite, Gomes, Fernandes (2001, p.46):
·
Ponto
de partida. (Por que vamos pesquisar?)
·
Formulação
dos subtemas. (O que vamos pesquisar?)
·
Planificação
dos processos da pesquisa. (Como vamos investigar?)
·
Realização
da recolha de dados. (O que estamos a pesquisar?)
·
Avaliação
intermediária. (O que pesquisei? Como pesquisei? O que posso fazer mais?)
·
Organização
da informação. (Como vamos organizar a informação?)
·
Elaboração
das formas de apresentação e divulgação. (Como vamos apresentar as nossas
pesquisas?)
·
Avaliação
final do projeto. (O que pensamos do nosso trabalho?)
Na realidade, de acordo
com as expectativas de cada nível de ensino, os docentes poderão optar por
métodos globalizados, especialmente pela Metodologia de Projetos. Assim, os
professores poderão alterar, acrescer e ou reformular as fases propostas.
Recomenda-se ao docente que analise as possibilidades, reflita e reconstrua a
Metodologia de Projetos de acordo com os interesses da temática a ser
aprendida, tentando superar a visão de aprendizagem disciplinar e desconectada
da realidade.
Bibliografia
BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da complexidade: metodologia de projetos,
contratos didáticos e
portfólios. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.